sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O sofrimento é a kriptonita dos super-crentes

 
Quero compartilhar com você algumas conclusões que ouso afirmar baseado tanto na Bíblia como na experiência de viver, observar e conviver com as histórias de pessoas que sofrem. 

É fato que pessoas boas sofrem. E sobre isso, quero lembrar 3 realidades visíveis e claras para todos sem distinção.

1. O sofrimento chega sem hora marcada. Há possibilidades que o imprevisível ocorra a você, a mim ou a alguma pessoa próxima a nós. O sofrimento chega quando nasce uma criança deficiente, ou um acidente trágico acontece, ou quando sai um diagnóstico terrível de câncer ou cada vez que a depressão assalta os corações e nos sepulta num quarto escuro. Nunca saberemos quando alguém terá um ataque cardíaco, perderá um ente querido, ficará paraplégico após um acidente, receberá a notícia de que sua filha contraiu HIV, ouvirá do marido ou da esposa um pedido de divórcio ou perderá o emprego. Assim, o livro de Jó é relevante para nós hoje, pois nos leva a pensar sobre a vulnerabilidade e finitude da vida. Jó, o melhor homem do mundo e o homem mais rico do oriente, num dia como outro qualquer, se vê sem nada. Em pouco tempo, numa rápida sucessão catastrófica de desgraças, ele perde tudo o que tem e tudo o que é. Conclusão: Realmente somos vulneráveis e finitos. Num piscar de olhos tudo pode acabar sem nos avisar. O sofrimento é tão surpreso e inesperado quanto a chegada da morte que não avisa quando vai chegar, mesmo que saibamos que qualquer dias desses, seremos alcançados pela dor e pela morte.

2. O sofrimento chega para todo mundo sem fazer distinção de caráter. Estamos inseridos num planeta caído. A queda humana teve implicações e conseqüências cósmicas. Toda a criação está imersa num ambiente de sofrimento. Ariovaldo Ramos disse: “O ser humano tornou-se frágil, propenso a enfermidades e o ambiente tornou-se perigoso, depósito de vírus e demais anomalias que podem ser fatais à existência humana e demais criaturas. Portanto, após a queda, viver é sofrer de alguma maneira. Toda criação sofre. Mesmo os que não têm motivo para se queixar sofrem de algum jeito. O sofrimento tornou-se parte da condição humana”. Temos que aceitar o que Phillip Yancey disse: “Talvez Deus não esteja tentando dizer-nos coisa específica alguma, todas as vezes que sofremos. Dor e sofrimento são partes inerentes do nosso planeta, e os cristãos não estão isentos delas”. E além do mais, em um universo caído, como disse Ed René kivitz “...ninguém é totalmente mal. E ninguém é totalmente bom. Assim também o mundo e a vida. A história, que tem como protagonistas pessoas em quem o bem e o mal se misturam e se confundem, não poderia ser tão exata. Por essa razão, de vez em quando acontecem coisas ruins para pessoas boas, coisas boas para pessoas ruins, e ninguém se surpreende mais quando acontecem coisas ruins para todo mundo”. 

3. O sofrimento revela a finitude de todo ser humano. O sofrimento humano nos leva a refletir sobre a nossa existência e nos faz olhar para dentro de nós mesmos e nos conhecermos. A dor nos coloca no devido lugar. É nesse momento que (re)avaliamos todo potencial humano. E chegamos a conclusão de que somos limitados e pequenos. Toda prepotência e arrogância humana caem por terra. A vulnerabilidade e a finitude humana gritam em alta voz nos ordenando a enxergarmos nosso lugar na existência, enquanto nossos gemidos de dor, até então, ateus, clamam por transcendência. Assim, o sofrimento é a criptonita do super-crente e do super-homem cético. O sofrimento quebra nossa dura cerviz e nos põe de joelhos carentes mendigando a graça e o socorro de Deus.

Quando olhamos para o sofrimento de Jó podemos perceber um quadro de sofrimento terrível e insuportável. O sofrimento reduz o homem a nada e ao pó. O sofrimento nos lembra que a vida é tão passageira quanto um hálito que é solto numa manhã fria e logo se dissipa ou uma bolha de sabão ou fogos de artifício.

Jó foi afligido “com feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça” (Jó 2:7). Tudo começou com uma simples coceira, logo depois surgiram manchas sobre a pele, e da noite para o dia se transformaram em tumores e em úlceras malignas que jorravam pus. Todo seu corpo se torna uma ferida purulenta. Somente a gengiva não foi afetada. Enquanto se raspava com caco de louça, seu corpo inteiro se contorcia de dor.

O professor Flamínio Fávero, então Catedrático de Medicina Legal na Faculdade de Medicina de São Paulo, ligada ao Hospital das Clínicas sugere que "a doença de Jó fosse um caso de furunculose estafilocócica generalizada [...] ou era pênfigo Foliáceo, ou fogo selvagem.” Mas só mesmo os gemidos de Jó que podem nos dizer o diagnóstico total de seu sofrimento. Vejamos a sua própria descrição do seu sofrimento:
  • Jó gemia de dor lamentando de dermatite aguda que causava infecções por todo corpo. Seus gritos de dor ecoam em nossos ouvidos: “Meu corpo está coberto de vermes e cascas de ferida, minha pele está rachada e vertendo pus” (Jó 7:5)
  • Sua pele estava escurecida e descascando, e a febre queimava seu corpo: “Perambulo escurecido, mas não pelo sol [...] minha pele escurece e cai; meu corpo queima de febre” (Jó 30:28,30).
  • Jó estava muito magro: “Não passo de pele e ossos; escapei só com a pele de meus dentes” (Jó 19:20)
  • Crises de depressão tiravam a vontade e o sentido de viver: “É melhor ser estrangulado e morrer do que sofrer assim; sinto desprezo pela minha própria vida. Não vou viver para sempre; deixa-me, pois os meus dias não tem sentido” (Jó 7:15, 16)
  • Rolava na cama em noites de insônia: “Quando me deito fico pensando: Quanto tempo vai demorar para levantar? A noite se arrastava, e eu fico me virando na cama até o amanhecer”. (Jó 7:4). 
  • Pesadelos o perturbavam: “me assustas com sonhos e me aterrorizas com visões”. (Jó 7:14)
  • Seu corpo se desintegrava a cada dia que passava. O mal hálito apodrecia sua boca e seus dentes: “Minha mulher acha repugnante o meu hálito; meus próprios irmãos tem nojo de mim. Até os meninos zombam de mim e dão risadas quando apareço. Todos os meus amigos chegados me detestam; aqueles a quem amo voltaram-se contra mim [...] escapei apenas com a minha gengiva” (Jó 19:17-20b)
  • Suas lágrimas enterram toda sua existência num leito sepucral, enquanto avermelham seus olhos e embaçam sua visão: “meu rosto está rubro de tanto chorar, e sombras densas circuncidam os meus olhos”. (Jó 16:16)
Enfim, este é o quadro horripilante de um homem torturado por uma desfiguração degradante e pela dor insuportável; é uma gélida lembrança de que o homem é carne, feito do pó tirado da terra.

Totalmente destruído, podre e nojento, Jó se isola no pó e nas cinzas como sinal de humilhação. Esta auto-abnegação era mais provavelmente sua própria maneira triste de aceitar sua nova condição social de lixo humano a ser jogado fora com outros detritos.

Esse é apenas um retrato real e bíblico do que o sofrimento pode fazer em qualquer homem.

Em Cristo, que também experimentou o sofrimento

Jairo Filho

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