quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Adorando a nossa adoração

Uma das palavras mais faladas do vocabulário evangélico é a palavra adoração. Adoração está na moda. Em todos os cultos, encontros, shows gospel, reuniões, retiros, vigílias, ajuntamentos, orações, cânticos e pregações, a adoração é mencionada com muita freqüência. Mas, isso é bom ou ruim? Pode até ser bom. Mas pode ser muito ruim se a adoração a Deus não for profundamente bíblica. A adoração será profundamente bíblica, se, e somente se, o coração do adorador adorar, exclusivamente, o adorado Deus Pai em espírito e em verdade como estilo de vida. Porque adoração sem Deus no centro é auto-idolatria. E adoração sem estilo de vida é apenas um ritual místico confinado ao fúnebre enclausuramento de um tempo e templo sagrados.

É trágico diagnosticar que nossa geração evangélica transformou a adoração em espírito e em verdade numa cultura bussines gospel de entretenimento. E pior ainda, perceber que toda vida cristã se resumiu apenas em adoração; e adoração foi resumida, exclusivamente, a momentos de músicas e grandes ajuntamentos. Porque nossa vida cristã tem se escondido atrás de guetos de santidade espiritual e nossas igrejas-ilhas isoladas, arrebatadas e alienadas sublimam sua encarnação no mundo psico-sócio-político cultural da vida real fugindo para a espiritosfera de seus cultos extáticos de adoração. Além do mais, hoje é preciso pagar pra adorar. É preciso estar naquele lugar com aquela banda pra adorar de verdade. É cômico ver os verdadeiros adoradores que o Pai procura pagando cursinhos que transformam meros crentes mortais em super-crentes adoradores e em celebridades famosas com "centos milhões" de CDs vendidos nas paradas de sucesso gospel. Quem sabe lancem um CD ou uma banda com o melhor adorador de todos os tempos das últimas semanas? Se você está a procura de um, pague pra vê.

Com a adoração sendo sinônimo de música e grandes ajuntamentos, percebemos que Deus não é mais o adorado, mas sim, um pretexto para adorarmos nossa adoração. Ficou espantado? Pense comigo: Por que há tantos longos momentos de músicas cantadas como o único meio possível de se adorar? Como seria uma liturgia de culto sem música? Por que consideramos as famosas bandas de adoração mais adoradoras do que outras? Por que achamos que as músicas mais espirituais são aquelas que suas letras são recheadas de expressões como chuva, vitória, cura, benção, água, rio, paixão, abraços, tocar, ver, prosperidade, extravagante, sonhos, promessas, colheita, vento, sentir, cheiro, profecias? Tire essas expressões da composição de sua letra que sua música não terá sucesso de vendas por não ser tão espiritual assim. E por falar nisso, alguem aí sabe interpretar e explicar biblicamente o significado dessas metáforas espirituais cantadas? Você já percebeu que tais expressões, como são usadas, enfatizam unicamente, prosperidade financeira, bem estar físico, emocional e espiritual, auto-estima, sensações e emoções subjetivas que não passam de efeito entorpecente alienante e anestésico? Infelizmente, a chamada boa adoração é aquela que nos faz sentir bem. É aquela que nos fazer sentir aquela sensação opiácea de endorfina e adrenalina, prazer, arrepio e êxtase. E somente isso. Essas sensações bioquímicas de nosso corpo, traduzidas pelo "envangeliquês", são chamadas de unção na adoração. Sera que unção é isso?

As letras das músicas adoradoras enfatizam uma adoração em espírito consumista e utilitarista que não passam de bajulação como tentativa de manipulação e domesticação de Deus. Nesse tipo de adoração, parece que nossa performace emocional serve apenas como dissimulação para despertar em Deus sua compaixão sobre nós e convencê-lo a nos dar aquilo que tanto desejamos. Nesses tipos de letra, Deus não é mais o centro da adoração nem muito menos o fim. Na verdade, nossa adoração adora a Deus como um meio que pode nos servir para satisfazer nossos gulosos e insatisfeitos desejos egocêntricos e consumistas. Ou seja, Deus só serve quando ele nos serve. Nesses casos, a letra mata.

Em muitos momentos, nossa adoração adora ter a ousadia de reivindicar nossos imagináveis direitos consumistas e ordenar que Deus restitua nossos bens de consumo que foram tirados de nós. Isso acontece porque a presença de Deus em nossas vidas foi resumida a presença de bens, emprego, sonhos realizados, posição social, estabilidade financeira, família, amigos. Quando um destes é abalado ou até mesmo arrancado de nós, perguntamos decepcionados: Onde está Deus? Como se Deus tivesse ido embora quando perdemos o que mais valorizamos na vida. O resultado disso é que nossa adoração não adora exclusivamente a Deus, mas adora adorar o que temos e o que somos. E isso "egolatria". Deus, nessas letras de adoração, não passa de um meio, um pretexto ou uma força maior que pode presevar os ídolos materiais de nosso coração. Desse jeito, fica fácil adorar quando tudo está bem conosco ou quando queremos algo pra nós. É por isso que a adoração está na moda. Porque no fundo, somos idolátras de nós mesmos e do que temos. E no fim das contas, adoramos nossa adoração.

Falando em adorar a nossa música,  registro aqui esse vídeo sobre a relação de música e idolatria.


Ao ver essa história e o cenário de adoração da igreja "evangélica" brasileira, penso que adoramos nosso jeito de adorar. Adoramos as liturgias de nossos cultos mais espirituais e renovados do que o daquela igreja. Adoramos nossa música mantra extravagantemente apaixonada e mergulhada nos rios de nosso êxtase sem noção. Adoramos nossas mãos levantadas ou abaixadas, nossos joelhos dobrados ou erguidos, nossos gemidos, nosso êxtase, nossas lágrimas, nossa silenciosa e fúnebre reverência à tradição litúrgica, nossa ortodoxia, nossos usos e costumes. Adoramos a adrenalina das músicas e a endorfina de nossos corpos na adoração. Adoramos o lugar, aquela banda, aquele ministro, aquela igreja. Adoramos ser iguais aquele ministério. Adoramos como adoramos. Adoramos ensinar aos outros a serem super adoradores como nós e a nos adorarem. Adoramos nossas estatísticas "evangelásticas" de milhões de apaixonados adoradores extravagantes que andam na macha ré do evangelho. Adoramos nosso espírito megalomaníaco de poder e grandeza de ser a igreja da história. Adoramos ter fé em nós mesmos e ser senhor e salvador de nossas próprias vidas. Adoramos cantar as músicas das bandas que adoram fazer letras que o centro da música é o pronome EU. Você já contou quantas vezes conjugamos a primeira pessoa do singular numa música? No fim das contas, adoramos adorar nosso EGO. E nessa adoração toda, qual o lugar de Deus na sua adoração?

Por fim, essa é a minha preocupação e denúncia. A adoração foi transformada num ritual místico e extático de um povo que adora a sim mesmo com o pretexto de adorar a Deus. Falo isso com arrependimento, temor e tremor no meu coração carente da graça de Deus. O que devemos fazer para mudar esse trágico quadro de adoração? Para repondemos essa pergunta precisamos (re)pensar o conceito bíblico de adoração fazendo perguntas como: O que é adoração? Porque adoramos? Quem precisa de adoração (se é que precisa)? Quem é o adorado? Quem é o adorador? Onde adoramos? Como adoramos? Qual a imagem que vem em sua mente quando você pensa em adoração? Qual o Deus que temos adorado? Onde encontramos as respostas dessas perguntas? Essas perguntas parecem óbvias e fáceis de respondê-las. Mas, pensando bem, não são. Porque os atuais adoradores adoram adorar sem a Bíblia com o pretexto de que a reflexão e a meditação bíblica vai quebrar o clima e o momento da adoração. E agora? Como você vai adorar? Quem você vai adorar? Vamos parar nesse momento e (re)pensar e meditar biblicamente sobre o significado da adoração que agrada a Deus. E essa tarefa, poucos querem realizar. Mas agora é conosco. Até a próxima. Fui!

Em Cristo, por meio de quem nós adoramos, exclusivamente e suficientemente, a Deus

Jairo Filho

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